Tema: A escuta do sofrimento psíquico relacionado ao trabalho: contribuições da psicanálise para o cuidado da saúde.


 Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza
FAMETRO
Equipe: Ana Ingrid,
Lays Diogenes
Alcino Junior



RESENHA CRÍTICA

1. AUTORES

Lia Carneiro Silveira: Docente do Programa de Pós-graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Ceará (Ppcclis/UECE); psicanalista do Fórum do Campo Lacaniano em Fortaleza-CE; enfermeira. E-mail: silveiralia@gmail. com
Rúbia Mara Maia Feitosa: Mestranda do Programa de Pós-graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Ceará (Ppcclis/UECE); bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap); enfermeira. E-mail: rubinhafeitosa@hotmail.com
 Paula Danyelle Barros Palácio: Mestranda do Programa de Pós-graduação Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde da Universidade Estadual do Ceará (Ppcclis/UECE); bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap). E-mail: pauladany85@yahoo.com.br

2. RESUMO

Estudo realizado baseado em um caso clínico, visando demonstrar como a escuta de uma queixa relacionada ao trabalho pode ser aprendida na perspectiva da individualidade do sujeito e refletir acerca da contribuição dessa escuta para a atenção à saúde do trabalhador. Foi realizada uma pesquisa desenvolvida por meio do método de estudo de caso em psicanálise. Discutiu-se como a queixa relacionada ao trabalho pôde ser abordada com base na singularidade do sujeito.
Nesse estudo, observamos a questão do sofrimento psíquico do trabalhador sob uma visão psicanalítica, podendo ir além da abordagem da queixa com base no modelo médico de atenção à saúde, articulando esse sofrimento às séries psíquicas que marcam a estruturação desse individuo.
A psiquiatria nasceu desse contexto, como a disciplina que deveria ocupar  se do sofrimento na sua vertente psíquica, alcançando desde então à categoria de “doença mental”.
 De acordo com Simanke (2002), essa definição de “doença mental” como objeto fundante da psiquiatria lança-a imediatamente numa espécie de dilema: só existe doença para aquilo que é localizável no corpo, e a mente é, no entanto, exatamente o que não pode ter apreensão orgânica. Das saídas encontradas para esse dilema, podemos afirmar que a psiquiatria optou por lançar mão de uma explicação pela via da causalidade orgânica, de modo a justificar as alterações patológicas do aparelho mental, na tentativa de reduzir ou eliminar o sofrimento psíquico, diante dessa temática podemos compreender, classificar, estudar e tratar paciente com transtornos psiquicos.
Conforme aponta Dejours (1992), as doenças do trabalho somente eram reconhecidas quando manifestavam sintomas evidentes no corpo, a tal ponto que não pudessem ser negadas. Assim, os quadros relativos ao sofrimento psíquico sem base orgânica eram desconsiderados e até mesmo “proibidos” de se manifestarem no ambiente de trabalho.
Atualmente, percebemos que a negação do sofrimento psíquico no mundo do trabalho ainda é bastante evidente. As intervenções têm, frequentemente, o objetivo de maquilar o sofrimento e as questões psíquicas, ou bem são desconsideradas, ou são encaixadas em uma lógica estritamente medicalizante (Brant & Minayo-Gomez, 2007).
A psicanálise surgiu no início do século XX como um campo do saber que daria um novo estatuto ao sintoma. Ele deixou de ser um fenômeno a ser lido na superfície do corpo e passou a ser tomado como uma mensagem a ser decifrada. Embora possa se manifestar como signo corporal, o sintoma caracteriza-se por ser uma formação de compromisso que procura responder a um conflito inconsciente. Além disso, ele exerce um papel na própria organização do sujeito, representando-o enquanto porta-voz de seu desejo (Freud, 1996).
O trabalho pauta-se em um estudo desenvolvido por meio do método de estudo de caso em psicanálise. Segundo Viganò (1999), trata-se de um método que tem a finalidade de fazer o sujeito falar, trazendo para a cena discursiva aquele que sofre, reconhecendo que seu sofrimento se articula ao modo como sua estrutura psíquica se organizou.
O caso estudado foi o da Marcélia, 39 anos, ela procurou atendimento no serviço público de saúde e foi encaminhada pelo médico da equipe para atendimento clínico no projeto de extensão “Psicanálise e Clínica social”. Esse encaminhamento era oferecido sempre que, na consulta médica, fosse identificada uma queixa de sofrimento psíquico.
A queixa que a levou ao serviço era de ansiedade e insônia. Sentia se deprimida e disse que fazia uso de paroxetina e clonazepam, conforme prescrição anterior.
Segundo Marcélia, tudo começou em 2005, quando sofreu um “assédio moral” por parte de seu patrão. Trabalhava havia quatro anos, como caixa numa loja de shopping e começou a apresentar uma dor nos braços que foi diagnosticada como tendinite em decorrência do trabalho repetitivo. Ao receber o diagnóstico, Marcélia procurou o patrão, que sugeriu que ela pedisse demissão. Como se recusou, o patrão começou a fazê-la passar por situações constrangedoras, como sentar numa cadeira isolada e passar o dia sem falar com ninguém. A partir daí, ela resolveu processá-lo, sua inquietação e seu sofrimento derivaram do fato de que as pessoas não acreditavam em sua doença.
A queixa inicial de Marcélia ao procurar o serviço de saúde era por sentir-se deprimida, referindo ainda os sintomas de “ansiedade e insônia”. Submetida ao discurso médico, Marcélia tentou situar sua queixa no real do corpo. Afirmou querer encontrar um exame que provasse a verdade do que ela sentia. A dor e o sofrimento constituíam-se, para Marcélia, em inúmeras situações: na perda da saúde, na decepção ao ser isolada no ambiente de trabalho, pelo não reconhecimento das suas habilidades laborais, na humilhação no expediente de trabalho e no lócus das audiências. Ela sofria por precisar provar aquilo que lhe afligia e que, portanto, era “real”.
Na clínica psicanalítica, essa queixa inicial trazida não era a questão central a ser analisada. Era a inserção de Marcélia em análise que lhe proporcionaria passar por uma reformulação, e implicar-se-ia, de alguma forma, naquilo de que vinha se queixar.   
   
3. CONCLUSÃO

Contudo foi observado nesse estudo que o paciente tem que ser avaliado individualmente mas sem esquecer a parte social, sua interação com a sociedade, foi mostrado a dificuldade em realizar um diagnóstico sem o paciente apresentar sintomas físicos, sintomas orgânicos, mas apresentando  sintomas psiquicos.
O profissional tem que avaliar o paciente subjetivamente, tem que entender o que está assolando o paciente, no caso deste estudo de caso, devido ao assédio sofrido a paciente adquiriu depressão, ansiedade e insônia, foi mostrada a dificuldade de provar os sintomas, durante sua guerra judicial contra seu patrão ela foi acusado de fingimento, devido essa dificuldade em mostrar o diagnóstico, mostrar os sintomas, inclusive ela perdeu o caso contra seu patrão.
O profissional tem que compreender o paciente usando com base a psicanálise.
A escuta numa perspectiva psicanalítica desses sujeitos abre espaço para outras possibilidades de lidar com o sintoma, já que o que vai estar em jogo não é a verdade científica, mas a verdade que cada um pode produzir acerca daquilo que o assola. Assim, cada um traz no bojo de seu discurso um saber inconsciente, um saber não sabido, mas que, ao ser colocado em funcionamento, tem efeitos importantes para uma mudança de posição subjetiva. Certamente não se trata aqui de propor a escuta psicanalítica como um modelo de intervenção na atenção à saúde do trabalhador. Isso não seria desejável nem mesmo possível, já que a psicanálise envolve um processo de implicação quase artesanal, tanto do lado de quem escuta (que só pode ocupar esse lugar a partir de sua própria análise) como do lado de quem aceita transformar sua demanda de resposta dirigida ao outro em uma pergunta que implique o seu próprio saber inconsciente.
No entanto, apostamos que a sustentação de uma escuta psicanalítica no serviço de saúde pode permitir a alguns sujeitos um espaço singular de elaboração de sua dor. Esperamos que o caso aqui abordado possa instigar outras reflexões acerca dessas possibilidades.

4. CRÍTICA

Nesse estudo de caso foi observado a dificuldade em realizar um diagnóstico psiquico do paciente devido a falta de sintomas orgânicos, mostrar para outros os problemas apresentados pelo paciente. Vimos a importância do profissional realizar uma escuta psicanalítica, nesse caso a queixa inicial da paciente foi ansiedade e insônia, isso que a levou ao médico.
Submetida ao discurso médico, Marcélia tentou situar sua queixa no real do corpo. Afirmou querer encontrar um exame que provasse a verdade do que ela sentia. A dor e o sofrimento constituíam-se, para Marcélia, em inúmeras situações: na perda da saúde, na decepção ao ser isolada no ambiente de trabalho, pelo não reconhecimento das suas habilidades laborais, na humilhação no expediente de trabalho e no lócus das audiências. Ela sofria por precisar provar aquilo que lhe afligia e que, portanto, era “real”.
A dificuldade de objetivar o seu problema nesse contexto mostrou ser um grande problema para paciente, pois ela precisava provar para todos o seu problema, nesse caso a paciente perdeu o caso para o seu patrão devido essa falta de objetividade no diagnóstico científico, ela não conseguiu provar os sintomas.
Nesse estudo vimos que o profissional de saúde tem que ter uma visão psicanalítica, ver a parte objetiva mas também dando total atenção para a parte subjetiva do paciente, ver como um todo, de forma ampla, decifrar seus problemas de maneira eficaz. A escuta numa perspectiva psicanalítica desses sujeitos abre espaço para outras possibilidades de lidar com o sintoma, já que o que vai estar em jogo não é a verdade científica, mas a verdade que cada um pode produzir acerca daquilo que o assola.






REFERÊNCIAS


SILVEIRA, L. C. FEITOSA, R.M.M. PALÁCIO, P.D.B.; A escuta do sofrimento psíquico relacionado ao trabalho: contribuições da psicanálise para o cuidado em saúde. Psicologia em revista, Belo Horizonte, v.20, n.1, p.19-33, abr.2014.

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